Conectividade para todos
VALOR ECONÔMICO - OPINIÃO - SÃO PAULO - 17/05/10 - Pg. A 13 |
Por Jeffrey D. Sachs
Não é todo dia que se consegue unir duas potencias globais para promover um avanço planetário, mas esta é a realidade com a Connect to Learn (www.connecttolearn.org), uma nova iniciativa global para assegurar que todas as crianças no planeta possam obter ao menos uma educação secundária. A gigante de telecomunicações Ericsson e a cantora de música pop Madonna estão se associando para levar as crianças à escola e a se conectarem pelo mundo afora por meio de banda larga sem fio. Meus colegas e eu no Instituto Terra e na Millennium Promise Alliance estamos nos unindo à iniciativa. Os benefícios em jogo não poderiam ser maiores, nem a perspectiva, mais emocionante.
A revolução da tecnologia de informação e comunicações (TCI, na sigla em inglês) é certamente a mais poderosa força isolada para o desenvolvimento econômico atualmente no mundo. Não é só em Nova York, Xangai ou em Paris que se encontra um telefone móvel na mão de cada transeunte. Nesses dias, encontramos telefones móveis nos taxis de Nairobi e com pastores de camelos no norte do Quênia. Atualmente há 4,6 bilhões de assinantes de telefonia móvel, e os números estão disparando. Estima-se que cerca de 250 milhões de assinantes vivam apenas na África subsaariana.
A disseminação da tecnologia 3G (e 4G em breve) oferece a perspectiva de um grande avanço tecnológico na educação. De repente, até escolas remotas podem se conectar à internet e a outras escolas por meio de um painel solar, computadores de baixo custo, e acesso sem fio. Uma escola que carecia até mesmo de materiais rudimentares de repente pode ter acesso ao mesmo reservatório de informações global, como qualquer outra parte do mundo.
Quando isso acontece, os resultados são eletrizantes. Poucos minutos depois de se conectar a uma comunidade bucólica no nordeste do Quênia, crianças liam sobre sua própria comunidade como parte do Millennium Villages Project (do inglês, Projeto Aldeias do Milênio). Comunidades que no passado tiveram baixa freqüência escolar viram crianças afluir em grande número, à medida que intervenções de baixo custo, começando com a capacidade de conexão à internet, merendas escolares e fornecimento seguro de água, provocaram um salto na qualidade e no desempenho das escolas, e no nível de atração que exercem sobre alunos e pais.
Com uma modesta verba inicial, comunidades rurais empobrecidas e tradicionais que não haviam considerado educar meninas de repente passaram a enxergar o imenso valor que a educação, tanto de meninos como de meninas, tem para a comunidade. Na Aldeia do Milênio que visitei recentemente na Etiópia com o ministro da Saúde do país, um pai local me explicou como havia decidido manter sua filha na escola em vez de casá-la com 12 anos de idade com o filho de um vizinho. "Eu perguntei à minha filha o que ela queria fazer", explicou o pai, "e ela me disse que quer ficar na escola, portanto ela continua na escola".
O ministro da Saúde disse que jamais havia escutado uma conversa desse tipo naquela região: que o pai não só tenha perguntado à filha, como também que tenha aceitado alegremente a sua decisão! Estamos presenciando mudanças velozes dessa natureza por toda a África. Comunidades destituídas vibram com a perspectiva de um incremento veloz na educação das meninas, se os parcos recursos permitirem.
Num dia de sol em Maláui recentemente, Madonna e o executivo-chefe da Ericsson, Hans Vestberg, compareceram ao lançamento da pedra fundamental de uma nova escola para meninas e lançaram a iniciativa da nova educação global. No horizonte em duas direções, espaçados em aproximadamente quatro quilômetros, estavam as torres móveis projetadas para conectar a nova escola ao mundo. A promessa não passou em branco com o governo nacional. O ministro da Educação se comprometeu a ampliar gradativamente a educação em nível nacional o mais rapidamente que os recursos permitam.
A educação secundária universal, especialmente para meninas, é transformadora para sociedades que tentam escapar da pobreza, pois a educação também altera a dinâmica demográfica do país. Nas partes mais pobres do mundo, onde meninas ainda não estão na escola secundária, elas são casadas em idade jovem e têm uma média de 6 a 8 crianças. As que permanecem na escola acabam se casando muito mais tarde, possivelmente até os 25 anos de idade, ingressando na força de trabalho, e tendo 2 a 3 crianças.
A interação da redução voluntária da fertilidade com a queda no nível de pobreza é profunda e veloz. Quando famílias pobres têm menos crianças, elas podem investir mais por criança em Saúde, nutrição e instrução. Mães podem passar mais tempo no mercado de trabalho, rompendo barreiras antiquadas de desigualdade entre os sexos. Redução no crescimento populacional significa menos pressão sobre a terra, água e biodiversidade. Resumindo, as conexões entre educação e fertilidade reduzida, crescimento econômico maios veloz e menor degradação ambiental são poderosas demais para serem ignoradas.
Conectar crianças ao redor do mundo em planos de estudo compartilhados online e facilitando "redes sociais" de crianças ao redor do mundo numa idade tenra, renderá benefícios educacionais de longo alcance.
As estimativas atuais indicam que cerca de 300 milhões de crianças em idade escolar em todo o mundo são privadas da possibilidade de completar a escola secundária, principalmente por motivos econômicos. Esse déficit, que ameaça os futuros dessas crianças e suas sociedades, pode agora ser fechado a baixo custo. Um Fundo global para Educação, combinado com um esforço global voluntário para ligar as crianças ao redor do mundo, oferece a oportunidade de um grande progresso que não era realista até poucos anos atrás.
Esses tipos de iniciativas representam mais um exemplo dramático de uma verdade básica do nosso tempo: pobreza extrema, analfabetismo e morte causada por doenças evitáveis são flagelos anacrônicos quando temos as tecnologias e a boa vontade globais para por um fim a elas.
Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e diretor do Instituto Terra na Universidade Columbia. É também consultor especial do secretário-geral das Nações Unidas na questão das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Copyright: Project Syndicate, 2010. www.project-syndicate.org
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